A preocupação e o investimento em iniciativas de turismo adaptado a pessoas com deficiência tem sido uma crescente no mundo, o que é uma vitória. Mas ainda assim, às vezes a ideia de sair por aí, no melhor espírito mochileiro, livre, leve e solto, com uma mochila nas costas e coração aberto, pode assustar um pouco à primeira vista quem precisa de algum tipo de atenção especial.

Aqui no Brasil, apesar de já termos alcançado alguns progressos, ainda temos muito o que fazer pela acessibilidade das pessoas portadoras de algum tipo de deficiência física. Lá fora, porém, como a cultura de viagem é muito forte e de muito tempo, despertou nas pessoas e nas empresas relacionadas a turismo a visão e a necessidade de se adaptar as soluções de turismo atuais a viajantes de todos os sexos, faixa etárias, culturas e necessidades particulares. Por isso, as iniciativas que facilitam o turismo – e inclusive, o mochilão – de pessoas com mobilidade reduzida é abrangente e relativamente comum, o que pode ser de grande ajuda na hora de pegar informações, coragem e viajar.

Claro que o assunto dá pano para a manga para uma série de discussões acerca de peculiaridades de cada necessidade, mas falando de forma geral dá para fazer um mochilão de aventura acessível sim, e se divertir muito. Só é necessária uma dose maior de planejamento para contornar prováveis incidentes – mas que, como tudo na vida, fazem parte do desafio de viver experiências enriquecedoras.

Certamente o planejamento varia de acordo com a necessidade que o viajante tenha, mas coletamos algumas dicas e observações que podem ser úteis:

Hospedagem: Muitos albergues filiados ao YHA já possuem estrutura para receber hóspedes com necessidades especiais – ou já exercem de alguma forma um trabalho que facilita a acessibilidade. Alguns albergues são construídos em prédios antigos, cujo acesso é mais difícil para entrar com uma cadeira de rodas, mas alguns já possuem alternativas confortáveis, como quartos adaptados no primeiro andar, toaletes próprios e adaptados e vagas em garagem especiais. Painéis em braille e possibilidade de registro e hospedagem de cães-guia também são possíveis. Basta entrar em contato com os albergues e pedir informações. Ah, e ao fazê-lo, sempre que possível peça uma foto dos cômodos adaptados. Uma imagem vale mais do que mil descrições.

Carro: Algumas vezes, onde dá para chegar de carro, dá para você chegar lá. As locadoras disponibilizam carros adaptados, e dependendo do lugar onde você for conhecer, existem plataformas de fácil acesso. E honestamente, muitas vezes nem precisa ter destino – só precisa ter a estrada. Dirigir pela rota 66 americana ou pela Golden Coast australiana são experiências que dão uma sensação de liberdade como poucas. Deliciosa.

Avião: As companhias aéreas, em sua maioria, estão razoavelmente preparadas para o transporte de passageiros, uma vez que sejam notificadas com antecedência das necessidades do voo. Uma dica apenas é evitar voos com muitas conexões, simplesmente para evitar muitos estresses nas mudanças de aviões.

Agências e Tours: Caso você não se sinta à vontade para sair sozinho mundo afora, pode contar com alguns tours especializados em esportes e aventuras para acompanhá-lo. Sem dúvida foi a descoberta mais gratificante ao pesquisar para escrever esta matéria. Existem tours de absolutamente todos os tipos de aventura para todos os tipos de necessidade – desde um safári de 12 dias pelo Krueger Park, na África do Sul, para portadores de deficiência renal que precisem de diálise, a 10 dias mergulhando Tailândia afora com instrutores especializados em linguagem de sinais e lábios.

A Turismo Adaptado tem parceria com outras agências mundo afora que ajudam o mochileiro aventureiro a dar aquela pitada de adrenalina necessária para a gente descobrir o mundo, mas com o justo suporte. E, se o desejo for de sair à solta, sem agências, e fazer passeios por conta própria, existem ainda empresas que oferecem equipamentos de aventura adaptados. Um exemplo é a Blue Sky Designs, que projeta tendas de acampamento próprias para usuários de cadeiras de rodas.

Guias e ajudantes: Dependendo do país, é razoavelmente barato contratar um assistente para ajuda-lo nos transportes – e facilita ainda se você quiser viajar por conta própria, sem roteiros nem agências, mas sente-se mais confortável com a presença de pelo menos uma pessoa. Índia e Tailândia, por exemplo, serviços de guias são relativamente baratos e você ainda conta com a experiência de visitar o país com a companhia e sob a ótica de um local.

Trekking: Parques considerados o “paraíso” para os trekkers como El Chaltén, na Argentina, e Torres del Paine, na Patagônia Chilena, possuem uma infinidade de trilhas, que vão de 1 hora até 9 dias – o que for ao gosto do freguês. E todos possuem empresas com guias especializados que podem fazer um roteiro fácil e customizado para qualquer tipo de pessoa, portadora de necessidades especiais ou não.

Degustar os momentos: Viajar é falar de novas experiências e, sobretudo, prazer. E não há nada mais gostoso que curtir com entrega os prazeres pequenos da vida. E que podem ser, por exemplo, tudo aquilo que estimule os cinco sentidos. Por isso, sempre que possível, não deixe de explorar o lado sensorial da sua viagem. Se tiver uma vinícola perto, agende uma degustação. Qual o prato principal do país? Experimente-o no restaurante mais gostoso que tiver. Se for andar de carro (e se o tempo permitir), abra a janela e deixa o vento bater no rosto. Escute as músicas locais. Assista às danças locais. Curta uma brisa.Pegue um pouco de sol – ou brinque com a neve. Sei lá. Mas o que fizer, não deixe de degustar de verdade as coisas. Pequenos prazeres tem o mesmo poder de marcar momentos especiais.

Destinos: Um consenso geral diria que os destinos mais “acessíveis” são a Europa Ocidental em geral, a Austrália e a Nova Zelândia, mas isso vai muito do grau de “aventura” que você deseja. Viagens para a Ásia são igualmente enriquecedoras, e com algum planejamento a mais são perfeitamente possíveis. Uma dica é entrar em contato com as associações de turismo adaptado presentes no seu local de destino e pesquisar algumas particularidades antes de ir.

Assistência: Seguro morreu de velho, já diziam. Então, ter um seguro de saúde para casos excepcionais é sempre uma boa – mesmo tendo um espírito econômico de mochileiro, é bom pensar que os gastos médicos, dependendo de cada caso, podem efetivamente quebrar o orçamento da viagem. Levar uma cópia em inglês da prescrição médica e um kit de reparos de uma cadeira de rodas, por exemplo, são boas ideias.

Mente inspirada: Particularmente adoro tudo o que seja relativo a viagens e aventura, de todo e qualquer tipo… Porque a gente primeiro relaxa, depois se desliga, e assim, acaba conhecendo um lado nosso todo particular, sem preconceitos, sem cobranças, sem limitações impostas pela pressa do dia a dia. Sobretudo, a gente conhece um lado melhor da gente mesmo. Por isso que sou uma apaixonada por histórias de viagens – porque quaisquer que elas sejam, sempre trazem um certo “quê” inspirador que é inerente a elas, e que dá em quem ouve aquela coceirinha do tipo: “ah, queria fazer também!”.

Fonte: Sair do Brasil

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