No ano de 2001, o turismólogo Ricardo Shimosakai precisou se reinventar. Ao sair a pé do Aeroporto de Congonhas em São Paulo, foi abordado por sequestradores que o levaram em direção a um caixa eletrônico. “Tinha acabado de reabrir minha conta no banco com um valor muito baixo, já que fechei antes de viajar por um ano a trabalho. Então fiquei com receio da reação dos bandidos diante dessa situação, e resolvi fugir. Quando o carro parou num semáforo, abri a porta e saí correndo. Foi então que levei um tiro. Atravessou as costas e perfurou o pulmão, tirando o movimento de minhas pernas, entre outras consequências”, lembra.

No entanto, Shimosakai diz que a trágica situação não o deixou depressivo. Ele conta que, apesar das várias limitações que o incidente trouxe, entendeu que poderia ser feliz e deveria lutar por isso. Dessa forma, aos poucos, começou a frequentar cinemas e teatros, e com o tempo retomar passeios mais distantes e de maior duração. As atividades chamaram a atenção de colegas também deficientes, que constantemente pediam dicas e informações de viagens. A partir daí, seus caminhos seguiram uma nova direção. “As pessoas começaram a me instigar para trabalhar com turismo para pessoas com deficiência. Esse foi o fator inicial para me especializar na área”, recorda.

Hoje, Ricardo Shimosakai é Diretor da Turismo Adaptado – uma empresa que realiza consultoria e agenciamento específicos no segmento. Além disso, o profissional ministra palestras por todo o mundo para que sua luta, inicialmente pessoal, possa ser desfrutada por todos que possuem limitações.

Desde 2004 como ativista no turismo acessível, o empresário acredita que o profissional do mercado de viagens brasileiro ainda tem receio de investir no segmento. “Creio que a indústria deveria enxergar a pessoa com deficiência como um público consumidor, e então um grande alvo potencial para realizar investimentos. Vejo que as iniciativas ainda são feitas muito baseadas em obrigações ou caridades”, pondera.

Para se ter uma idéia, dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) de 2010, apontaram que mais de 45 milhões de brasileiros declaram possuir algum tipo de deficiência, número que representa cerca de 25% da população do país. “Apesar de ainda não existir uma pesquisa oficial em relação ao cenário econômico acessível no Brasil, nos Estados Unidos, adultos com deficiência movimentam mais de 14 bilhões de dólares por ano. Londres, por meio de um trabalho focalizado no ano das Paraolimpíadas, movimentou em 2012, mais de 3,2 bilhões de dólares”, diz Shimosakai.

Atendimento personalizado

Segundo o empresário, é importante que o descritivo seja bem detalhado. Shimosakai diz que, dependendo do nível de dificuldades e habilidades da pessoa e da adequação dos locais e serviços, pode-se incluir o viajante com deficiência em um grupo convencional. “É importante ter alguém capacitado para realizar o atendimento, mas para isso é preciso ter conhecimento sobre acessibilidade e deficiência. Se a agência não tem capacidade de realizar esse atendimento, a opção mais adequada é procurar alguém que tenha experiência nas duas áreas, ou seja, acessibilidade e turismo, pois esses dois itens trabalhados em conjunto tem particularidades específicas”, encerra.

Fonte: Brasilturis

" });