“Às vezes estou em casa, vejo o violão lá num canto, pego e começo a tocar, daí  a família vai se juntando. A gente se sente importante”. Rogério da Silva, 15 anos, estuda violão pelo ponto de cultura “Encontro das Águas”.

Esse diálogo que a música propicia é apenas uma de suas infinitas facetas. Ela transita em todos os universos do desenvolvimento humano. Da diversão aos processos de aprendizagem, do comportamento aos  recantos mais íntimos do ser.  Não há nada que seus acordes não toquem, não  desperte.

O ponto de cultura “Encontro das Águas” optou pelo violão por ser um instrumento popular e de fácil aquisição para trabalhar a arte e a cultura nas escolas, no período do contra turno, com crianças e adolescentes de menor poder aquisitivo.

A maioria dos participantes é formada por alunos matriculados em cinco escolas parceiras, mas podem participar também alunos de outras escolas da comunidade. A escola se encarrega de fazer a seleção dos alunos. O critério é que eles não faltem às aulas. O trabalho é realizado por três instrutores mais voluntários.

Notáveis

Na Escola Municipal Ponte da Amizade, das treze turmas que recebem as aulas de violão, duas chamam a atenção. Uma é a de deficientes visuais e a outra é da classe especial. Na turma dos deficientes visuais participam o trio Cleide Anacleto, 39 anos, que perdeu totalmente a visão há 13 anos, Jair Marquez, 41 anos, que há 20 já não enxerga, e Joaquim Arão Cordeiro, 43, cego desde o primeiro ano de vida. Além de aprenderem a tocar violão, eles cantam e se apresentam sempre que surge uma oportunidade.

Cleide teve um violão aos 15 anos, mas só depois que perdeu totalmente a visão é que tentou aprender a tocar.  Dona de um timbre de voz mais grave, parecido com o da cantora Paula Fernandes, é uma líder natural em sala. Empenhada, enquanto não aprende  um acorde ela não desiste de tentar e, tudo isso, entre uma gargalhada  e outra.  Sobre o método de ensino, ela relata: “o professor fala as notas e põe os dedos da gente em cima das cordas, aí depois é tranquilo”.  Ela mora em Santa Terezinha de Itaipu e é mãe de dois filhos.

Sobre os benefícios das aulas todos são unânimes em apontar a melhora na auto estima como o maior ganho. Jair diz que está sendo bom demais, “enquanto tiver professor para ensinar eu quero continuar”.

Joaquim está realizando um desejo que surgiu há oito  anos quando participou de um curso de fotografia. Na época ele falou: “a fotografia me mostrou que quero aprender música”. Agora com o violão descobriu que gosta mesmo é de cantar. Ressalta também uma maior independência para sair sozinho. Eles só têm uma reclamação: queriam mais tempo de aula. O trio se apresentou na Feira do Livro deste ano. Joaquim fez bonito cantando Romaria.

Desafio

Para o professor Leandro Gonçalves, 62 anos, o ponto de cultura  também está sendo uma oportunidade desafiadora.  Começou a tocar violão e guitarra aos cinco anos, aos 14, teve uma banda de rock. Formado em violão clássico, hoje toca e ensina qualquer estilo de música.  Acostumado a dar aulas particulares e individuais. No começo ficou um pouco assustado com o convite para dar aulas para várias crianças e também para quem não enxerga. Achou que não daria conta.

Mas aceitou o desafio e, na prática, encontrou o tom de ensinar de forma coletiva.  Com uma paciência e jogo de cintura impressionantes, ele nunca se irrita com os alunos, ensina a teoria e a prática do violão, com desenhos das partituras no quadro e tudo o mais. Domina qualquer estilo, mas procura levar em conta o gosto do aluno. Hoje diz que as aulas que mais gosta é a que ministra para os deficientes visuais. Ele ensina violão na escola Ponte da Amizade e Dobrandino Gustavo da Silva.

Fonte: H2FOZ

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