Em setembro, além do Dia Nacional do Surdo (26), o país também comemora o Dia Nacional de Luta pelos Direitos das Pessoas com Deficiência (21). Para traçar um panorama dos eventos culturais acessíveis na capital de SP, o Guia Folha preparou um roteiro com atrações que oferecem recursos de tradução em Libras (língua brasileira de sinais), legendas, audiodescrição e braille.

A ideia é dar opções de atividades permanentes ou eventuais para que os deficientes auditivos e visuais também possam aproveitar a cidade. De acordo com os últimos dados do IBGE (2010), na capital paulista há cerca de 500 mil deficientes auditivos (aproximadamente 30 mil são surdos). Os deficientes visuais passam de 2,2 milhões (em torno de 53 mil cegos).

Viviane Sarraf, especialista em acessibilidade cultural, avalia que as ações inclusivas vêm crescendo, mas que o número ainda é pequeno. “Esses eventos são mais comuns em festivais e datas comemorativas”, diz a pesquisadora, que fez uma palestra na quinta (24), no Itaú Cultural.

A reportagem conta, ainda, com depoimentos de surdos e cegos sobre suas necessidades e dificuldades em um universo cultural que parece, muitas vezes, deixá-los de lado. [Colaboraram Gabriela Valdanha e Rafael Gregorio]

LIBRAS
É a língua brasileira de sinais, que permite a comunicação com os surdos. É uma língua com estrutura gramatical própria usada no Brasil, por exemplo, é diferente da usada em Portugal e em outros países.

AUDIODESCRIÇÃO
No caso de filmes, peças ou shows, o recurso serve para descrever aos cegos detalhes não percebidos nos diálogos e nas frases ditas em cena, como tipo de cenários e de figurinos e as expressões faciais.

LEGENDAS
Não são todos os surdos que entendem a língua brasileira de sinais. Por isso, é importante para o bom entendimento que as atrações também forneçam legendas com o que é dito durante as atividades.

BRAILLE
Usado por pessoas cegas ou com baixa visão, o sistema de leitura baseado em símbolos representados em alto relevo permite que as palavras e as frases sejam entendidas apenas com o toque das mãos.

As salas de espetáculo não são obrigadas a oferecer recursos inclusivos para surdos e cegos. Mas, a partir de janeiro, os cinemas terão 48 meses para disponibilizar legendas e audiodescrição em todas as sessões.

TRIBOS
Uma das sessões acessíveis da peça “Tribos”, que estreou há dois anos, chegou a contar com 500 deficientes auditivos na plateia. “Eles se identificam muito com o personagem”, diz Bruno Fagundes, que interpreta um surdo cuja família não compreende suas limitações.

Na comédia, que acaba de reestrear no Tuca, ele divide o palco com seu pai, Antonio Fagundes. Desde o começo eles se propuseram a realizar apresentações com tradução em Libras, legendas e audiodescrição —que são realizadas no último sábado de cada mês (nesta temporada serão em 31/10, 28/11 e em 12/12, já que a peça sai de cartaz em 13/12). Quem quiser, deve garantir logo os ingressos, que costumam acabar.

“No começo, a gente teve um trabalho grande pra organizar isso, mas toda comunicação requer um esforço, é preciso que você tenha essa disponibilidade, e nós a temos”, diz Fagundes, o pai. Bruno conta que aprendeu muito com essa iniciativa. “Eu entendi a função social do teatro e o sentido principal do nosso trabalho, que é a comunicação e a troca.”

Tuca – Rua: Mte. Alegre, 1.024, Perdizes, tel. 3670-8455.

Dias com acessibilidade: 31/10, 28/11 e 12/12. Sex. e sáb.: 21h30.

Dom.: 18h. Até 13/12.

Ingr.: R$ 50 (sex.), R$ 70 (dom.) e R$ 80 (sáb.). Tel: 4003-1212 ou ingressorapido.com.br.

THEATRO NET
O teatro paulistano começa agora, em setembro, a oferecer eventos acessíveis: os espetáculos realizados no último fim de semana de cada mês terão tradução em Libras, audiodescrição, legendas e programas em braille.

A estreia foi com o musical “Raia 30”, de Claudia Raia, nos dias 26 e 27/9.

A ideia, segundo a organização, é estender esses recursos a todas as apresentações, tanto em São Paulo quanto no Rio —lá, essas ações eventuais acontecem desde março.

Shopping Vila Olímpia – Rua Olimpíadas, 360, 5º andar, Vila Olímpia, região oeste, tel. 4003-1212. “Raia 30” – Dia 26: 18h30 e 21h30. Dia 27: 18h. Ingr.: 50 a R$ 200. 

ITAÚ CULTURAL
Neste mês, o local que, já costuma realizar atividades acessíveis, terá todas as sessões do projeto Terça Tem Teatro com tradução em Libras: “Madame Satã” (29/9).

CCSP
O Centro Cultural São Paulo possui a Biblioteca de Culturas Surdas, para quem se comunica por Libras, e a Biblioteca Louis Braille, com mais de 6.000 audiolivros e livros em braille —e digitalização de textos.

Centro Cultural São Paulo – Rua. Vergueiro, 1.000, Liberdade, região central, tel. 3397-4002.

CAIXA CULTURAL
No dia 29/9, às 14h, haverá oficina teatral para surdos.

Pça. da Sé, 111, Sé, região central, tel. 3321-4400. Inscrições: [email protected]. Grátis.

 SÉRGIO CARDOSO
O teatro realiza sessões acessíveis —e esporádicas— desde 2013. O próximo evento com Libras e audiodescrição será “Orpheus” (25/10), com a Studio3 Cia. de Dança —os ingressos custam R$ 60 cada.

Rua Rui Barbosa, 153, Bela Vista, região central, tel. 3288-0136. 144 lugares.

THEATRO SÃO PEDRO
A ópera “O Homem dos Crocodilos + Édipo Rei” estreia em 18/11, mas já há três sessões marcadas com audiodescrição e Libras: nos dias 25, 27 e 29/11.

O conteúdo é transmitido pelo aplicativo WhatsCine, por meio do uso de smartphones e tablets.

Dr. Albuquerque Lins, 207, Santa Cecília, região central, tel. 3661-6600. 636 lugares.

CIA. BALLET DE CEGOS
No projeto de Fernanda Bianchini, os deficientes visuais interpretam balé clássico. O próximo espetáculo será em comemoração aos 20 anos da iniciativa, dia 1º/11, no Auditório Ibirapuera —com recurso de audiodescrição.

Parque Ibirapuera – av. Pedro Álvares Cabral, s/nº, portão 2, região sul, tel. 3629-1075.

TOM BRASIL
É comum a casa de espetáculos realizar sessões acessíveis. A próxima com audiodescrição e interpretação de Libras será a peça “Mais que Dilmais” (8/11; R$ 50 a R$ 120).

Rua Bragança Paulista, 1.281, Santo Amaro, região sul, tel. 4003-1212. 1.800 pessoas.

BIBLIOTECA DE SÃO PAULO
O local possui aparelhos que digitalizam e convertem o texto escrito em áudio, o recurso é imediato, e o visitante pode levar o audiolivro para casa (basta ter algum tipo de mídia para armazená-lo).

O deficiente visual Aroldo Uchoa, por exemplo, cursa direito e psicologia e visita a biblioteca toda semana -já ouviu mais de 200 livros de lá. Todas as terças-feiras, das 15h às 16h, são realizados os Jogos Sensoriais, com brincadeiras para pessoas com ou sem deficiência —a experiência estimula as habilidades sensoriais.

Já aos sábados, das 11h às 13h, dá para brincar no Tabuleiro de Jogos, uma oficina ministrada por Carlos Oliveira na qual os deficientes visuais dispõem de tabuleiros adaptados —e podem aprender táticas do xadrez e participar de partidas.

Pq. da Juventude – av. Cruzeiro do Sul, 2.630, Canindé, região norte, tel. 2089-0800. Grátis.

DIÁLOGO NO ESCURO
Guarde todos os seus pertences no armário, principalmente os que emitem luz: relógio, celular e até seu brinco (se ele for muito brilhante). “Mas e os meus óculos? Pode guardar também, você não vai precisar deles.”

A conversa é comum entre participantes e instrutores da exibição multissensorial “Diálogo no Escuro”, em cartaz até fevereiro no Unibes Cultural. Durante a experiência, um grupo de até oito visitantes entra em um espaço em completo breu. A segurança vem de uma bengala e da voz dos guias —que são cegos ou possuem baixa visão.

“Sinta com os dedos, o que você acha que é isso?”. Entre tropeços, os visitantes são obrigados a estimular outros sentidos, principalmente o tato e a audição, para descobrir onde estão: em uma floresta, uma feira, uma rua ou um bar. “As pessoas saem daqui achando que somos super-heróis”, diz Sony Pólito, um dos guias. Não é para menos.

Unibes Cultural – Rua Oscar Freire, 2.500, Pinheiros, região oeste, tel. 3065-4333.

Seg. a sáb.: 11h às 17h30. Até 20/2/2016. Livre.

 Ingr.: R$ 24 (seg. a qui.) e R$ 30 (sex. e sáb.).

 É necessário fazer agendamento p/ 2122-4070 ou compreingressos.com.

 FESTIVAL “ASSIM VIVEMOS”
A sétima edição do evento exibe 33 filmes de 20 países, de quarta (23) a 5/10 — em comum, eles discutem a possibilidade de uma vida independente, e muitos são protagonizados por atores com algum tipo de deficiência.

O festival, que ocorre no CCBB e celebra a inclusão cultural no Brasil, terá audiodescrição em todas as sessões, catálogos em braille e legendas “closed caption”. Nos debates, haverá tradução em Libras.

Um dos destaques é o filme alemão “Carmina – Viva a Diferença”, que mostra mais de 300 pessoas (com ou sem deficiência) dançando “Carmina Burana”, sucesso de Carl Orff. Abaixo, a programação dos dois primeiros dias. Para ver a agenda completa, acesse o site oficial.

Centro Cultural Banco do Brasil – Rua Álvares Penteado, 112, centro, tel. 3113-3651. 70 lugares. De 23/9 a 5/10. Grátis.

MIS
A exposição “Truffaut – Um Cineasta Apaixonado”, em cartaz no Museu da Imagem e do Som, conta com um audioguia com detalhes sobre as obras que homenageiam o cineasta francês. O recurso é ativado via celular, a partir do aplicativo do museu. Em outras mostras, ao atender pessoas com deficiência visual, as orientadoras realizam ações descritivas do espaço expositivo. Também mantém o projeto Acessa MIS, com atividades culturais para pessoas com deficiência, e o MIS +60, destinado a idosos.

Av. Europa, 158, Jardim Europa, tel. 2117-4777. “Truffaut” – Ter. a sáb.: 12h às 20h. Dom.: 11h às 19h. Até 18/10. Ingr.: R$ 10 e R$ 16 (ter.: grátis).

PINACOTECA
O museu oferece catálogos em braille e com CD de áudio, visitas com especialistas em Libras e videoguia para os surdos. Também abriga a Galeria Tátil de Esculturas Brasileiras, com 12 obras do acervo que podem ser tocadas.

Pça. da Luz, 2, Bom Retiro, tel. 3324-1000. Ter. a dom.: 10h às 17h30.

MUSEU DA IMIGRAÇÃO
Realiza atividades para deficientes visuais, intelectuais e auditivos. O conteúdo das exposições de longa duração possui legendas e audioguia —em cartaz: “Migrar: Experiências, Memórias e Identidades”.

Rua Visc. de Parnaíba, 1.316, Mooca, região leste, tel. 2692-1866. Ter. a sáb.: 9h às 17h. Dom.: 10h às 17h.

MUSEU AFRO BRASIL
Com o aplicativo do museu, o visitante tem acesso a um audioguia com detalhes do acervo fixo e de algumas exposições em cartaz. O local conta com maquetes táteis legendadas em braille.

Pq. Ibirapuera – av. Pedro Álvares Cabral, s/nº, portão 10, tel. 3320-8900. Ter. a dom.: 10h às 17h.

MUSEU DO FUTEBOL
Oferece audioguia para cegos, com informações sobre o trajeto, descrição das salas e exploração do conteúdo do museu. Realiza, ainda, o Projeto Deficiente Residente, cujo objetivo é melhorar o atendimento prestado pela equipe.

Estádio do Pacaembu – pça. Charles Miller, s/nº, tel. 3664-3848. Ter. a dom.: 9h às 17h

MUSEU DE ARTE SACRA
Os visitantes têm acesso a tradução em libras, audiodescrição e maquetes táteis com legendas em braille. Além disso, mantém o Programa de Acessibilidade, com ações regulares para pessoas com deficiência, crianças e idosos.

Av. Tiradentes, 676, Luz, tel. 3326-3336. Qua. a sex.: 9h às 17h. Sáb. e dom.: 10h às 18h.

CASA GUILHERME DE ALMEIDA
Instalado na casa onde o poeta viveu, o museu implementou sinalização tátil no chão e realiza visitas com educadores que se comunicam em Libras. Também se adaptou para receber deficientes físicos, com banheiro adequado e elevador, que dá acesso ao piso superior.

Rua Macapá, 187, Sumaré, região oeste, tel. 3672-1391. Ter. a dom.: 10h às 18h.

CATAVENTO
O museu possui descrição em braille em suas principais instalações, além de atividades interativas que estimulam o lado sensorial. O Catavento Acessível é um roteiro criado para atendimento a pessoas com deficiências (físicas, intelectuais, visuais e auditivas).

Pça. Cívica Ulisses Guimarães, s/nº, Brás, tel. 3315-0051. Ter. a dom.: 9h às 16h.

Fonte: Vida mais livre

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