Nem a beleza arquitetônica e o valor histórico dos pontos turísticos do Recife conseguem esconder um lado nada agradável deles: a falta de acessibilidade para pessoas com algum tipo de deficiência ou redução de mobilidade. A ausência de condições para utilização, com segurança e autonomia, dos espaços se estende ainda aos acessos dos prédios públicos voltados aos turistas, arredores deles e, de forma geral, às ruas da capital pernambucana.

O deficiente visual Paulo Fernando da Silva, 45 anos, contou que gosta de visitar museus, centros de artesanato e mercados públicos, mas as dificuldades até chegar a esses locais começam assim que ele sai de casa. “Os obstáculos já surgem nas calçadas, que são péssimas. Já os acessos aos pontos turísticos dificilmente têm sinalização por piso tátil. Dentro dos museus, é difícil encontrar adaptação às nossas necessidades”, afirmou.

Perguntado sobre a nota (de 0 a 10, sendo 0 péssimo e 10 excelente) que a capital pernambucana merece quanto à acessibilidade, Paulo Fernando disse a cidade faz jus a, no máximo, uma nota 3. “A luta é diária. São muitos obstáculos nas ruas, desde árvores nas calçadas, orelhões e outros impedimentos sem a sinalização de alerta no piso. Não faço questão de pedir ajuda, mas quero andar sozinho pela cidade, com independência”, disse. “Só quem sabe como é difícil andar aqui é quem vive como a gente”, completou o paratleta Emídio Oliveira, 53, que teve paralisia infantil aos 10 meses e não movimenta as pernas.

A arquiteta especialista em acessibilidade Bárbara Cereja, professora do Centro Universitário Maurício de Nassau, afirmou que a falta de melhores condições aos pedestres no Recife decorre do fato de a cidade ser pensada, principalmente, para carros. “Não é um local que pensa no pedestre com prioridade. Se quem tem condições de caminhar sem dificuldades encontra diversos obstáculos, imagine quem tem a mobilidade reduzida”, ressaltou. De acordo com ela, um espaço é acessível quando as pessoas – independentemente de suas condições físicas – conseguem transitar com autonomia.

Um piso acessível deve ser regular, firme, contínuo, estável e antiderrapante. E essas características devem permanecer sob quaisquer condições climáticas. “Nas calçadas, o ideal é que elas tenham faixas de serviço, com arborização e pontos comerciais nessa área e não impedindo o trânsito de pedestres”, explicou a arquiteta Mirella Nunes. O Símbolo Internacional de Acesso (SIA) – pisos táteis ou podotáteis, por exemplo – deve ser utilizado para indicar, localizar e direcionar a pessoa com deficiência ou mobilidade reduzida.

Fonte: Diário de Pernambuco

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